Finalmente Um Caminho Para Seguir Em Frente.


Olá, Unnam, ou Unnemanon.

Quando "criei" a persona Unnemanon, decidi que Unnam morreu devido meu amadurecimento, então a persona que dá nome a este blog foi criada com o fim de expressar essa nova transformação. Porém, confesso que eu tinha uma ideia diferente do que esperar dessa mudança. Eu mudei tanto que sequer consigo decidir manter ou não Unnemanon. Por via das dúvidas, assim será até não ser mais.

De certo que devo primeiro mencionar uma jovenzinha que me moveu a escrever. Estávamos conversando num dos únicos jogos que ainda roda no pc daqui de casa, este mesmo que permanece vivo há pouco mais de doze anos. Essa jovenzinha, Nicksouzaah, para ser mais exato, disponibilizou seu tempo para ouvir meus dramas e expôr alguns dos seus. Graças a essa interação eu me senti criativo e propenso a escrever, portanto cá estou. Obrigado, jovenzinha.

Senhores, confesso que minha pretensão era manter segredo quanto ao meu "propósito de vida", mas Unnemanon foi criado a fim de manifestar o meu interior para a internet, pois, desse modo, tenho em minha consciência que estou plantando meus fragmentos de alma numa rede virtual que fez e faz parte de mim.

A vida da minha família mudou bastante, e, por conseguinte, a minha também. Como eu tenho muita propriedade para falar de minha pessoa, posso dizer que estou sempre mudando, mas sempre sinto serem mudanças volumosas ocorridas num tempo muito curto, ou seja, possa ser que amanhã ou daqui uma semana eu esteja levemente diferente. E essas leves diferenças são constantes, causando, por consequência, um efeito borboleta, que eu só reparo após acontecer. Talvez seja por isso que quando me reencontro com amigos antigos, percebo-me distante, como se estivessem rumando um caminho diferente, desconhecido para mim, enquanto estou constantemente andando para uma direção que não consigo entender, sequer controlar meus passos, apenas me vejo peregrinando, tropeçando e me machucando nesse ciclo vicioso.

De Janeiro de 2020 pra cá, essas mudanças foram bem direcionadas, com suas intenções decifráveis para mim. Depois de muito suplicar aos meus pais para me tirarem da escola, alegando estar fazendo um mal gradativamente destrutivo para mim, sugerindo, em troca, estudar em casa, inclusive para o Encceja e concluir o ensino médio, tornei a faltar os primeiros dias de aula, pois vi que não mais estavam manifestando contrariamente às minhas petições e logo vi uma melhora perceptível em meu estado mental. Voltei a praticar atividades físicas, como polichinelo, agachamento e musculação em casa, haja visto que tinham equipamentos para malhar em casa, como barras e halteres com peso. Junto disso, pesquisei mais, estudei mais. Estava começando em desenvolvimento web e hermetismo

Eu carrego algumas lembranças da escola, do fundamental ao médio, que quebraram muito a minha mente, me trouxeram muita dor e eu tinha plena certeza de que não duraria o 3° ano, o meu último ano, nesse inferno que chamam de escola. Afirmo com certeza que, para onde meus pensamentos e a vida estavam me levando, se não fosse pela pandemia, eu já estava morto ou preso por alguma razão. Sempre que tentava desabafar com alguém, diziam ser frescura, e doía muito mais quando essas palavras vinham do meu pai.

Bem, e o que aconteceu? Certo dia, vivendo muito bem e com uma rotina muito agradável, eu estava voltando para casa, pegando o caminho que sempre pego e que fica bem próximo da oficina de bicicleta do meu pai. Ele viu eu voltando para casa e me chamou. Lá, me mostrou um pedaço de madeira, de tamanho médio, e me disse: "Tá vendo essa madeira? Então, se você faltar mais um dia de escola, vou te quebrar com isso." Estranhamente eu ri, não foi minha intenção, mas eu ri e zombei do que acabara de ouvir. Com isso, ele pegou o pedaço de madeira e se aproximou de mim, incrédulo do que eu disse, mas nada fez. Apenas me mandou, rudemente, ir para casa.

Chegando em casa, tentei chorar forçadamente (de tanto "engolir o choro" e viver sedado pela apatia, é bem dificil chorar por algo) porque sabia que seria só mais um problema que eu guardaria e isso não é bom. Tenho muita negatividade acumulada e sei que são capazes de me fazer perder a cabeça e fazer algo extremo. Já quase matei o meu irmão numa briga que tivemos, e vê-lo chorando para mim, me dizendo não saber quem eu era, me fez chorar.

O meu semblante havia mudado. Eu não estava bem, e a mínima esperança que eu tinha na vida, mesmo em momentos de tristeza, esvaiu-se. Meus pensamentos suicidas já estavam gradativamente me possuindo, me convencendo. Os planejamentos estavam cada vez mais inteligentes e perfeitos.

Meu primeiro dia de aula: uma merda. Não anotei nada, apenas fiquei prostrado na cadeira, aguentando meus "colegas de classe". Eu tive alguns bons colegas, mas não era prazeroso conversar com nenhum naquele momento, apenas desejava ficar sozinho e continuar me divertindo, confortando-me com as inúmeras formas de me suicidar, muito bem ilustradas pela minha mente.

Até que surge um salvador para a minha vida, aquilo que mesmo hoje eu me sinto mal por concebê-lo como um fator que me ajudou a continuar vivo: a pandemia.

Inicialmente fiquei de férias por duas semanas, muito bem aproveitadas, aliás. Visto que em breve eu voltaria ao inferno, as atividades repentinas, como assistir a um vídeo qualquer no YouTube, eram muito mais divertidas e proveitosas que de costume.

A felicidade em viver me visitara como uma explosão ao me informar da agradável notícia de que aquelas férias de duas semanas, converteram-se para "período indeterminado".

Agora, que tal eu falar sobre a situação da minha família?

Pois bem, meu pai permaneceu trabalhando na sua oficina de bicicleta, ganhando pouco, mas ao menos dava para manter o arroz, feijão e ovo e não era tão difícil de consertar bicicletas, à enfatizar seus anos exercendo esta área. Minha mãe, que sempre trabalhou de doméstica, teve que fazer uma escolha difícil: ficar em casa, ou morar na casa dos patrões trabalhando até que a pandemia tivesse acabado.

A situação da minha mãe e do meu pai não eram boas. Meu pai já a expulsou algumas vezes de casa e meus irmãos e eu sempre íamos com ela. Como meu avô era pastor presidente de uma igreja, ele permitiu que lá morássemos até os problemas se resolverem, que não tardou devido aos rumores dentro desta mesma igreja em que meu pai era pastor vice-presidente; estava ficando feio para ele.

Fora casos de expulsão, meu pai também tem alguns casos de traição, inclusive com uma mulher que era amiga muito próxima da minha mãe. Eu a chamava de tia e considerava seus filhos meus primos, e como o mais novo da minha família, eu era muito próximo do mais novo da família dessa mulher. Infelizmente, a descoberta da traição me separou desse rapaz com quem tive uma amizade muito próxima quando mais novo.

Meu pai me pôs traumas desde novo, mas não vou falar sobre isso aqui para não deixar esse post maior do que já está.

Com meu pai na loja, minha mãe no trabalho e fora outros problemas (pretendia mencioná-los aqui, mas são assuntos para outros posts), a casa estava tranquila, mas a minha mente não. Tentei seguir com a minha vida e até que estava lidando bem, mas sempre me senti um peso para o mundo, como se não tivesse valor algum. O que me ajudou a resolver grande parte dos meus problemas foi um trabalho que meu irmão mais velho me chamou para fazer.

Minha mãe conseguiu comprar uma humilde casa numa favela próxima de onde vivíamos, por um preço baixo. A casa precisava de reformas e minha mãe não tinha condições para pagar um pedreiro com ajudantes, então enquanto eu estava na escola, meu irmão mais velho, junto ao pedreiro, estavam trabalhando na reforma da casa. Com a vinda da pandemia, passei a trabalhar lá também.

Durante uns seis meses trabalhando nessa casa, eu viajava pouco mais de cinco quilômetros até lá, pegando a avenida brasil na contramão de bicicleta para economizar passagem e trabalhava até perto das 17h, comigo a minha mãe só gastava dinheiro com o almoço. Após poucos meses, meu irmão parou de trabalhar nessa casa devido a uma oportunidade de trabalho, então fiquei sozinho com o pedreiro e tive que segurar uma barra pesada por causa disso (mestre de obra não faz massa né minha gente =D), mas foi boa a experiência e mais para frente direi o porquê.

Vale ressaltar que eu fiz essas coisas sem o meu pai saber e até hoje ele não sabe sobre o trabalho.

Trabalhar como ajudante de pedreiro refrescou minha cabeça. Mesmo suando e me doendo de tanto trabalhar, eu me sentia muito mais leve e em paz nessa casa, não só porque reviveu em mim a sensação de ter valor para alguém, mas também porque eu estava fora de casa, fora de um local emocionalmente insalubre para mim.

Após oito meses pude finalmente ver a minha mãe. Ela havia emagrecido e estava linda. Senti-me profundamente feliz em vê-la seguindo em frente, transformada externa e internamente. Exalava o ar de uma nova mulher, notavelmente diferente da que eu estava acostumado a conviver.

Aos poucos, minha vida foi mudando. Passei a ficar mais tempo nessa casa. Quando não tinha máquina de lavar, eu lavava minhas roupas no tanque, e quando não tinha microondas ou geladeira, eu fazia comida em pequenas porções para não sobrar. Vivia de arroz, feijão, ovo cozido, cenoura e beterraba ralada. Meus únicos entretenimentos eram ler livro ou passear para conhecer a nova favela em que ia morar.

Não lembro de ter me sentido tão feliz e livre como nesse tempo em que não tinha nada nessa casa. Eu lia livros por mais de quatro horas sem cessar, saía de casa com bom humor, sentava num banco de praça enquanto escorria pensamentos e mais pensamentos na minha cabeça, ora bons, ora levemente negativos, mas sempre acompanhados de sarcasmo. Minha vida estava leve, sarcástica e boa.

Agora eu vou dar um enorme pulo na história e ir para a parte que dá jus ao título.

Minha mãe conheceu um rapaz super legal, vivaz e otimista, um oficial da marinha, filho de um pastor com o qual ela também é amiga. Ele compartilhou um link com ela, anunciando o edital aberto da EsFCEx e minha mãe passou para mim. Eu, como quem não quer nada, abri o link e baixei o edital. O li e descobri que aquela prova era direcionada para pessoas que tiveram ensino de nível superior e querem servir o exército de acordo com sua formação.

Ao saber que não era para mim, deixei pra lá, mas tive um lapso de memória: EsPCEx. Lembrei de já ter ouvido falar sobre isso em algum lugar, e, novamente, como quem não quer nada, dei a ideia de fazer a prova para esse concurso. Foi a partir daí que minha vida mudou.

Ela me disse coisas que jamais me disseram, pelo menos não daquele jeito. Minha mãe me disse para estudar para a EsPCEx porque sou capaz, sou inteligente e eu consigo passar nesse concurso. Ela estava feliz por eu ter simplesmente sugerido isso, como se eu realmente tivesse passado no concurso antes de tentar.

A fé que minha mãe depositou em mim mudou a minha vida porque eu senti algo diferente. Por mais que não tenhamos uma história muito boa, a única razão pela qual eu permaneci sofrendo o incômodo de pedalar até essa casa e trabalhar como ajudante de pedreiro era puramente porque eu aceitei que minha vida era dela. Eu repetia constantemente para mim: "Se eu escolher viver por mim, então vou me matar, porque não quero viver. Mas tem uma pessoa que me quer vivo e agora está precisando de mim, então a partir de hoje eu vivo em prol dela e será tudo por ela."

Aquilo que dava sentido à minha vida disse que sou capaz de, em menos de quatro meses, estudar e ser aprovado num concurso concorrido por todo o Brasil, onde você, passando, ingressa na EsPCEx para futuramente se tornar um militar oficial de carreira, podendo alcançar o cargo de General do exército.

OBS: [05/04/2025] Eu amadureci e decidi que ser militar não era o que eu queria para minha vida, isto, claro, anos depois. Hoje, aos 22, não partilho de tais pretensões, visto que me encontrei em uma outra profissão.

Desde que minha visão de mundo expandiu, meus problemas internos parecem pequenos e me sinto implacável, capaz de conquistar o mundo. Eu nasci de novo e isso porque eu obtive o conhecimento certo, na hora certa.

Eu tenho 18 anos e ainda não sei o que quero ser quando crescer, mas sei o que quero e o que sempre quis ter e fazer: estabilidade; dignidade; dar orgulho à minha mãe; viver num lugar em que prevaleça o respeito e o sossego e ter condições para mimar a mim e à minha mãe.

OBS: [05/04/2025] Todos estes episódios mudaram, exponencialmente, os fundamentos que consistem a minha identidade e a minha visão sobre mim e ao mundo, e graças a isso, fazem-se muitos anos que não mergulho profundamente em intenções suicidas. Hoje, minha relação com meu pai se resume a indiferença. Aprendi a perdoá-lo, mas não porque ele merece, e sim porque minha mãe não merece um filho rancoroso e triste. O visito esporadicamente, mas se tem uma coisa que nunca fomos capazes de fazer, é conversar normalmente.

O que importa não é o motivo ou o objetivo, mas o peso que nós atribuímos a eles. O peso que inconscientemente atribuía aos meus problemas, me mantinha no chão, afundando-me cada vez mais. Minha vida agora mudou e cabe a mim fazer acontecer, porque falar é fácil. Eu mereço o mundo e que se dane a baixa autoestima.

Termino meu texto aqui. Realmente ficou muito grande, mas fazer o quê. Este é um dos blogs que escrevi ano passado, que correlaciona com esse: Desabafo, Suicídio, Cyberia, sas coisa ae.