Pois é, senhores. Minha aparição neste mundinho que criei está bastante infrequente. :'P
Para começar: eu tenho um trampo! É numa assistência técnica de smartphones. =D
Comecei semana passada e estou me habituando, aos poucos. Basicamente, fico sentado, dez horas por dia, atendendo clientes, oferecendo produtos ou serviços. É o que tem para hoje.
Não estou insatisfeito. É melhor ficar sentado num local que considero meu trabalho do que em minha casa, procrastinando, me intoxicando com internet e, de sobra, deprimido por falta de oportunidade de trabalho.
Os problemas ainda estão aqui, como sempre. Não vão sumir mesmo que eu vá ao paraíso. Preciso resolvê-los ou simplesmente lidar com eles até lhes provar que sou o mais forte, pois só assim para pararem de me perturbar.
Meus pensamentos e o modo como as coisas se desenrolam aqui dentro não é muito diferente do mundo real. Se eu for fraco e covarde, serei oprimido e lançado para fora de onde é bom; mas caso prove minha força, irão temer a mim, certamente me servirão.
É assim que acontece em casa, na rua, escola, igreja... A força não se manifesta somente no que seu corpo é capaz de aguentar, mas também naqueles em que sua mente é capaz de persuadir. Se eu tenho considerável força física, empurro minha moto até um posto de gasolina a fim de abastecê-la. Mas se sou inteligente, faço dinheiro com meu intelecto e pago para alguém forte realizar esse trabalho por mim. O microcosmo é só uma versão pequena do macrocosmo, mas o valor e o propósito são iguais, não há inferioridade, somente os preconceitos que lhes atribuímos. Mas até mesmo esses preconceitos ficam com a gente e não influenciam em nada no funcionamento do universo, apenas no pedaço de terra e água que foi nos confiado por seja lá quem.
Com seus problemas internos não é diferente, pois caso seja capaz de convencer plenamente a si que seus problemas são pequenos e fáceis de resolver, posteriormente o modo como divagas sobre eles ocorrerá de um modo diferente, talvez mais assertivo, curto e objetivo.
Semana passada viajei com a minha mãe para Cabo Frio - RJ. Passamos o final de semana numa casa de praia, onde, ao abrir uma porta, você dá de cara com uma praia vazia. Um lugar perfeito para quem deseja espairecer a mente e refletir sobre o que têm sido a sua vida.
Foi por pouco tempo, mas valeu muito a pena. Fomos felizes, estivemos em paz, coisa que raramente consegui nessa minha vida curta. Eu nasci e moro até hoje em favela, então estou acostumado à cenas trágicas, insegurança evidente, tráfico de drogas acontecendo na esquina de uma rua em que há crianças jogando bola, por aí vai.
Lá, estive num local de paz, convivendo com pessoas que olham para si no espelho e enxergam um vencedor, alguém que batalhou e estudou muito para sair de favela e morar num bom lugar, lugar este que você chama orgulhosamente de "Lar".
O que mudou em mim após a viagem? Não muita coisa, sendo sincero. Foi útil para recapitular muitas divagações que tenho e já tive comigo, refrescar o que eu quero, o que devo fazer para alcançar meus propósitos, o que tenho feito, etc.
Nessa viagem eu percebi que os problemas não estão unicamente em mim. Meus problemas internos não derivam somente de meu passado denso, mas do modo como lido com eles e de como tenho os tratado. Meus olhos se abriram e perceberam que eu sempre morei em locais emocionalmente insalubre e o que tornava a minha vida "normal", era justamente não saber que eu morava num local emocionalmente insalubre.
Toda sujeira que já aconteceu comigo passou a ser mais doloroso quando me habituei a ficar sozinho. No início, era muito tedioso e triste ficar sozinho por horas, mas eu tinha que fazer isso para fugir dos bullyings, das broncas, das ameaças, de toda a sujeira que acontecia não só na escola, mas em casa e afins. Com o tempo se tornou menos tedioso e aprendi a pensar com a minha própria cabeça. Sem perceber, já estava olhando pro céu enquanto, em meus pensamentos, manifestavam-se inúmeras ideias e imagens por segundo.
Com isso, aprendi e descobri muitas coisas. Para aqueles que me forçaram a isso e me quebraram, passei a ser "sério" e "inteligente", me tornei aquele que querem bajular para futuramente dar uma mãozinha em época de provas bimestrais. Mas adivinha? Minhas notas eram lamentáveis. xD
Hoje percebo que não sou o culpado de tudo que já aconteceu comigo, embora eu também seja, afinal, "quem manda ser fraco?". Reconheço que vivo num lugar insalubre, pesado e carrego coisas equivalentes comigo, mas também reconheço que quem atribuiu peso e valor a estas coisas, inclusive ao ambiente em que vivo, é a minha cabeça.
Em Cabo Frio, me senti em paz, vivão e vivendo. Era como se meus problemas fossem estupidamente pequenos e fáceis de resolver, fora que eu tinha muito fôlego e coragem para bater de frente com eles.
Sempre vivi em locais que favoreciam aos meus problemas, porém, essa frase não está completamente certa. Na verdade, sempre vivi coisas e em locais que me agregaram problemas, e como tudo começou quando eu ainda era muito novo e inocente, o mundo não só me tornou fraco e covarde, como me convenceu duramente disso. Esse estigma que carrego comigo favorece os meus problemas, é isso que lhes dá a vida e o poder que hoje eles tem sobre mim.
Sendo assim, o que, desde o início, eu precisava fazer, não era ter um emprego, uma namorada ou qualquer coisa que já me aconselharam no passado. O que eu precisava fazer era transformar o modo como eu via os meus problemas, vê-los tão pequenos e fracos como os vi durante essa viagem.
A solução sempre esteve ao meu alcance, mas nunca tive maturidade para concretizá-la, sequer procurá-la dentro de mim.